domingo, 27 de novembro de 2011
ILHA DE PÁSCOA
A paisagem seria das mais essenciais: nuvens alongadas pelo vento, linha do horizonte, azul incorruptível do mar. Mas algo muda tudo: figuras antropomorfas, alinhadas de costas para o oceano, altas, solenes. São os moai (substantivo que designa tanto o singular como o plural), um enigma etnográfico e arqueológico que tem poucos rivais. O cenário é um "fragmento de terra" que dista meio oceano Pacífico da costa chilena (3.700 km) e outro meio do grupo insular da Polinésia. A ilha de Páscoa é a mais remota, isolada e misteriosa do planeta.
O primeiro europeu a encontrá-la foi um navegador holandês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, Jacob Roggeveen. Foi ele que usou a palavra "fragmento" em seu relato sobre a descoberta. Era 1722, domingo de Páscoa, o que lhe sugeriu o nome -para os europeus, porque o nome antigo é Rapa Nui (Grande Rapa, em referência à ilha de Rapa, na Polinésia). O termo designa a ilha, o povo e sua língua, ainda hoje falada orgulhosamente pela população nativa.
Antes de Roggeveen, a história da ilha afunda no mar das lendas. Mas sabe-se que, desde pelo menos o século 5º, Rapa Nui foi povoada por migrações sucessivas da Polinésia, da Melanésia e da Austrália.
Quando chegou James Cook, em 1774, com seus veleiros, ele levou alguns polinésios, que se entenderam com os rapanuis falando o próprio idioma.
Rapa Nui é menos rica e menos bonita que suas companheiras da Polinésia, embora tenha um "logotipo" inesquecível: os moai cinzelados por seu povo. Tratam-se de estátuas monolíticas que representam homens de tamanhos diferentes e expressões parecidas, chegando a ter 22 metros de altura e a pesar até 90 toneladas.
Foram transportadas por quilômetros, pois a pedra fica concentrada em um só lugar e, finalmente, colocadas em plataformas acuradamente projetadas e construídas de costas para o mar.
O efeito é estonteante, multiplicado ainda pela aridez da terra e pela planície do mar: as esculturas se destacam no vazio como numa colossal galeria de arte.
Surgem muitas perguntas. Em primeiro lugar, a profusão das estátuas supera toda a lógica estatística: eram quase 900 para uma população estimada em 4.000 pessoas. Na ilha não há rios e na época não havia cavalos nem abundância de alimentos. Como os rapanuis moldavam a pedra vulcânica, tão dura? Como moviam tanto peso, erguiam as peças e ainda colocavam em cima delas um pesado chapéu -um tipo de tambor de pedra vermelha- levado de outro local?
O leque de hipóteses inclui visitantes de estrelas desconhecidas e a Mana, uma energia oculta que anima as pessoas e as coisas. Alguns sustentam que a maior parte da ilha, hoje com superfície de 175 km2, teria afundado no Pacífico. Ciência e mistério ainda convivem em Rapa Nui.
Por que os moai eram tão grandes? Sabe-se que eram dedicados ao culto dos mortos. Mas talvez a razão mais profunda esteja nos milhares de quilômetros de água que se estendem ao redor da ilha, antes de qualquer terra. A ilha parece flutuar no tempo e no espaço.
Os moai são uma forma de devoção e uma expressão artística, uma declaração de independência e um ato de resistência. Não representam deuses, mas pessoas. Entreabrem uma porta para outro mundo, não necessariamente místico, mas irredutível ao mundo real.
Conta-se que os clãs da ilha lutavam com frequência, e os moai dos perdedores eram abatidos, sempre de cabeça para baixo. Muitos deles ficaram nessa posição, causando um efeito singular. Vê-los de nariz afundado na terra perturba um pouco. De pé ou caídos, os "donos da terra" têm uma força intensificada pelas perguntas que continuam sem resposta.
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