Poluição por plásticos nos oceanos: uma preocupação global
Os plásticos têm inúmeras qualidades e utilidades que trazem praticidade a nossa vida. Apesar disso, uma vez descartados no ambiente podem causar sérios prejuízos a biota e ao ecossistema. Hoje em dia, os plásticos são considerados poluentes emergentes e constituem um problema global. Por este motivo, pesquisadores de todo o mundo tem se preocupado com este tema e diversos estudos sobre a poluição por plásticos tem sido desenvolvidos.
A ingestão de plásticos por animais marinhos, como tartarugas e aves, é um assunto em particular que tem chamado muito a atenção dos pesquisadores, devido aos danos causados a estes animais. Os efeitos físicos causados pela ingestão de plásticos são os mais conhecidos. Dentre eles pode-se citar o sufocamento por grandes peças de plástico, a obstrução do trato digestório e a diminuição do volume funcional do estômago, que podem causar, em pouco tempo, a morte do animal.
Outro problema associado à ingestão de plásticos que têm sido recentemente investigado é a transferência de poluentes orgânicos persistentes que encontram-se adsorvidos a superfície dos plásticos para os animais que os ingerem. Os plásticos adsorvem os poluentes presentes no ambiente e chegam a ter concentrações tão altas quanto as encontradas em diversos animais, e estão sendo utilizados para monitorar a poluição de diversos locais no mundo. Apesar de a alimentação ser a maior via de exposição de poluentes orgânicos persistentes para os animais marinhos, alguns trabalhos investigam a ingestão de plásticos como uma fonte adicional de contaminação. Os poluentes orgânicos persistentes são bastante conhecidos por seus efeitos tóxicos e além da sua grande persistência no ambiente, possuem alta afinidade aos tecidos animais. Os bifenilos policlorados (PCBs) e pesticidas organoclorados, como os DDTs, são exemplos de alguns poluentes orgânicos persistentes encontrados nos plásticos.
As aves marinhas estão entre os animais mais afetados pela poluição dos oceanos. São animais com alta freqüência de ingestão de plásticos, em especial o grupo dos albatrozes e petréis que são capazes de acumular os plásticos no trato digestório por longos períodos. Da mesma maneira, problemas causados por poluentes orgânicos persistentes em aves marinhas são bastante conhecidos, sendo associados com a diminuição do sucesso reprodutivo e declínio de populações destes animais. Em um estudo recentemente realizado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, foram encontrados PCBs e pesticidas organoclorados em plásticos retirados do trato digestório de albatrozes e petréis. Observou-se que tanto as concentrações destes contaminantes nos plásticos como o grupo de compostos encontrados eram bastante similares aos encontradas nos tecidos das mesmas aves. As investigações continuam em diversos centros de pesquisa em busca de maiores evidências sobre a transferência de poluentes dos plásticos para os animais marinhos.
A mortalidade de animais marinhos causada pelos plásticos pode ser facilmente observada em diversas partes do mundo. Entretanto, a poluição por plásticos pode causar problemas além daqueles que os nossos olhos podem ver como o transporte de poluentes orgânicos e a transferência destes contaminantes para os animais marinhos. Por serem leves e capazes de flutuar na superfície da água, os plásticos são carregados pelas correntes marinhas e são encontrados até em lugares remotos do planeta, distantes de áreas industrializadas e poluídas, o que mostra que este não é apenas um problema local. A grande quantidade de plásticos presentes no ambiente marinho e os prejuízos causados ao ecossistema por este tipo de poluição é um alerta de que este é um problema que merece a atenção de todos.
Fernanda Imperatrice Colabuono é estudante de doutorado da Universidade de São Paulo. Seu projeto foi financiado pelo CNPq e contou com a colaboração do Projeto Albatroz e do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (FURG).
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