segunda-feira, 29 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO SANITÁRIA


É comum ouvirmos afirmações sobre a incapacidade de os adultos mudarem seu comportamento em relação às práticas que interessam à Saúde Pública. Depositam-se as esperanças na formação de uma geração nova, completamente livre dos maus hábitos da atual, considerando-se esforço perdido o empregado com os adultos. No entanto, na organização política e social do Brasil, não há condições para a educação da criança, separada da sua família, separada do grupo social em que ela viva. Se as escolas são precárias do ponto de vista de instalações, ainda o são muito mais em relação ao professorado. O recrutamento, a formação e o sistema de remuneração do professorado estão a pedir uma total revisão. A escola, como regra, só alfabetiza nada mais. À criança não são oferecidas as oportunidades para o desenvolvimento de suas potencialidades na interação inteligente com o seu próprio ambiente. Nessas escolas as professoras não têm a formação adequada para a educação em relação à saúde. A ignorância realmente é constrangedora. Aliás, participam dos padrões culturais dos grupos de população a que pertencem. Nestas condições como pensar na formação de uma nova mentalidade através do sistema de escolas primárias apenas?
O problema tem que ser atacado simultaneamente nos vários níveis do ensino, na família, e através de todos os contatos com a população adulta. Não há justificativa para a difundida ideia de que os adultos não aprendem. As experiências psicológicas demonstram que a idade não representa uma barreira para a aprendizagem e a consequente mudança de comportamento. Há apenas uma questão de abordagem e de utilização das motivações dos grupos que nos interessa. A experiência tem mostrado que é possível uma apreciável reestruturação das atitudes em relação a todos os setores da vida derivada do trabalho educativo de adultos no campo da saúde. Verdadeiros líderes comunais surgem dos grupos trabalhados.

Agora, passemos a algumas considerações gerais sobre métodos de educação sanitária para o combate às endemias rurais.
Preliminarmente, quero ressaltar que qualquer serviço de profilaxia deve ser planejado para ser educativo. Para tanto é fundamental a definição das doenças em termos de conduta. Assim, por exemplo, a esquistossomose, do ponto de vista educativo, é uma doença culturalmente condicionada; ela se mantém como uma endemia, por modos de viver da população; ela se expande de acordo com os movimentos migratórios e as vias de comunicação. Portanto, desde o primeiro planejamento de combate temos que ter as vistas voltadas para as mudanças de comportamento necessários e para os meios de alcançar tais mudanças. A primeira condição de êxito é a formação de pessoal capaz de trabalhar com vistas para tais objetivos.
Em esquistossomose, porque ela incide especialmente em populações extremamente pobres, é preciso que outras atividades se desenvolvam para a melhoria das condições gerais de saúde - assistência médica geral e condições para melhorar o rendimento econômico. Onde não há oportunidade de trabalho, a saúde não pode ser valorizada em si. A saúde tem que ser um meio para uma vida melhor.
Para esse fim é indispensável a coordenação das entidades, trabalhando para o desenvolvimento social e econômico. Tal coordenação deverá efetivar-se, tanto no plano federal, como regional e local. Para a maioria das parasitoses intestinais são válidas as mesmas considerações gerais em relação ao método.
Um programa de erradicação tem que ser planejado buscando melhorar tais condições sociais. A abordagem comunal e de programas integrados visando à melhoria das condições gerais de saúde e de vida é a única que pode assegurar resultados duradouros e econômicos no controle de quase todas as endemias rurais.

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